Jovens muçulmanos em Portugal têm orgulho em ser portugueses - estudo
Lisboa, 29 Nov (Lusa) - Um estudo comparativo entre jovens portugueses, muçulmanos e não muçulmanos, demonstra que o orgulho de serem portugueses é praticamente igual, com valores muito próximos dos 90 por cento, segundo um estudo apresentado hoje em Lisboa.
As conclusões foram apresentadas no decorrer do primeiro de dois dias de trabalhos da conferência internacional sobre "Muçulmanos em Portugal - Experiências Sociais e Transnacionais", por Nina Clara Tiesler, investigadora do Instituto de Ciências Sociais (ICS).
"O estudo, comparativo, abrangeu 250 pessoas, entre estudantes do ensino superior e filhos de muçulmanos, radicados há décadas em Portugal", disse a investigadora à Lusa.
O trabalho salienta que 89 por cento dos jovens muçulmanos inquiridos "sentem-se em casa em Portugal" e, entre estes, mais de metade (54 por cento) "concordam fortemente" com o sentimento de pertença a Portugal.
Entre os jovens portugueses não-muçulmanos, o valor é de 88 por cento.
Para Nina Clara Tiesler, os resultados não a surpreenderam.
"A questão da integração (na sociedade portuguesa) é um pouco artificial. É anacrónico perguntar-se se os muçulmanos estão integrados em Portugal, porque esses cidadãos estão cá há mais de 40 anos", salientou.
A investigadora reconhece que a maioria da população portuguesa "não conhece o Islão".
"A pergunta se os muçulmanos estão bem integrados só surgiu na sequência do '11 de Setembro'", data em que as torres gémeas de Nova Iorque foram alvo de atentados terroristas dirigidos pela rede Al-Qaeda, de Osama Bin Laden.
AbdoolKarim Vakil, investigador do King's College, em Londres, que interveio também no primeiro dia de trabalhos da conferência, referiu que, no contexto português, "até há pouco tempo ninguém, dos muçulmanos que residem na Europa, era apontado como muçulmano por via da confissão religiosa que escolheu".
Nina Clara Tiesler partilha a mesma opinião.
"Os muçulmanos que vivem na Europa, incluindo Portugal, eram identificados em termos de nacionalidade, conforme os países de onde provinham. Eram turcos ou paquistaneses, por exemplo", disse.
"O primeiro ponto da viragem histórica, privilegiando a categoria religiosa apareceu em Portugal em 1989, início da década de 1990, com o fim da guerra fria, a invasão do Kuweit por Saddam Hussein e os acontecimentos na Bósnia", acrescentou.
Por essa razão, Nina Clara Tiesler tem "grandes dúvidas que o Ocidente perceba o Islão".
A conferência, organizada pela Rede Internacional de Investigação sobre Muçulmanos nos Espaços Lusófonos (MEL-net), em colaboração com a Rede Muçulmana Europeia, a Comunidade Islâmica de Lisboa e o Forum Abraâmico de Portugal, termina sexta-feira, com a presença do ex-Presidente português Jorge Sampaio, Alto-Comissário da Iniciativa da ONU para a Aliança das Civilizações.
EL.
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