A GUERRA DE KOUCHNER
Sena Santos
jornalista
Kouchner, ao agitar o cenário de guerra com o Irão, fez explodir a polémica: "Quando a comunidade internacional busca uma solução diplomática para a crise nuclear iraniana, eis que o célebre ex-'french doctor' antecipa o apocalipse. Kouchner, socialista reconvertido à direita populista, agora MNE francês, é notícia por trair o ideal que o distinguiu" [editorial no El Watan de Argel]; "Incompreensível" [Le Temps]; "Delírio incendiário" [L'Humanité]; "Suscitou críticas silenciosas dentro do próprio governo de Paris" [The New York Times].
Escorregou numa "gaffe" ou investiu numa mensagem com efeito calculado? "É a 'bushização' da política externa francesa" [Didier Pobel, no Le Dauphiné Libére]; "Dentro da amizade exibida por Sarkozy e Bush, a França volta costas às posições equilibradas e entra na diplomacia do 'hamburguer'. Desorienta e desagrada. Será que Paris consegue sincronizar os aliados europeus com o seu passo?" [Le Télégramme]; "A França muda para agressividade inspirada no modelo americano" [El Watan]; "Poderia ter escolhido um momento mais apropriado para estas falsas manobras, doutor! Não vemos nem qualquer contrapartida benéfica, nem que os EUA, atolados na Mesopotâmia, possam meter-se em nova aventura" [Christian Merville, no L'Orient de Beirute]
Pierre Rousselin justifica, no Le Figaro: "Kouchner não quis precipitar o confronto, mas alertar para a gravidade da situação: a República Islâmica pode ter a bomba atómica dentro de dois ou três anos"; "Quis mostrar aos mollahs de Teerão que desta vez é a sério" [Frankfurter Allgemeine Zeitung]
O vice-ministro russo dos Estrangeiros alerta no Vremya Novosti: "Atacar o Irão seria catastrófico erro político". O italiano D'Alema: "Importa dar tempo à diplomacia" [La Repubblica]
"As críticas obrigaram Kouchner a recuar para arrefecer o ambiente" [The New York Times]; "No avião que o levou a Moscovo, Kouchner esclareceu a mensagem: é de determinação pela paz. Negociar, negociar, negociar." [Le Monde]