Amorim muda tática do Brasil sobre desmatamento
Eric Brücher Camara
Enviado especial a Bali (Indonésia)
Segurança indonésio em Conferência da ONU em Bali
Policial indonésio em Conferência da ONU em Bali
Em uma mudança de estratégia, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou neste domingo que a delegação brasileira na conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) para mudança climática em Bali, Indonésia, vai buscar a formação de uma coalizão com outros países em desenvolvimento - a maioria com florestas - para tentar resolver uma das questões mais polêmicas do encontro: a inclusão de menções ao chamado desmatamento evitado.
A questão envolve o pagamento por redução nas emissões de carbono em florestas de países em desenvolvimento, um mecanismo apelidado de RED (sigla em inglês). O Brasil concorda com a idéia, mas existe um forte movimento entre a maior parte dos outros países com florestas de incluir um segundo D, de degradação, à sigla.
"O embaixador Everton Vargas (chefe da delegação brasileira em Bali) vai começar os trabalhos já na segunda-feira", disse Amorim, que chegou a Bali na sexta-feira para um encontro informal entre ministros do Comércio de todo o mundo durante o fim de semana.
Além disso, o Brasil não concorda com a proposta defendida por dezenas de países em desenvolvimento de vincular o desmatamento evitado à concessão de créditos de carbono - títulos que poderiam ser comprados pelos países ricos no já existem mercado de carbono.
"O equilíbrio é muito delicado. Como não há a entrada de recursos financeiros novos, há uma corrida ao mercado. E se os países ricos comprarem créditos de florestas não desmatadas e continuarem a poluir, não há corte de emissões", afirmou o ministro, para concluir que com isso, não haveria redução global de emissões de carbono.
"Com isso, mesmo sem qualquer desmatamento, continua o aquecimento global, e no futuro próximo a Floresta Amazônica vai virar uma savana."
Assunto difícil
A questão está sendo considerada uma das mais polêmicas durante a primeira semana do encontro de Bali, e já teria arrastado sessões de trabalho por mais de dez horas.
Amorim disse estar consciente das dificuldades de tentar criar uma posição única entre países com situações tão díspares quanto Brasil e Papua Nova Guiné ou Costa Rica.
Para o chanceler, no entanto, essa posição unificada não deve sair até o fim do encontro, na sexta-feira.
"Se fosse tarefa fácil, o presidente nem tinha me pedido para vir aqui", brincou.
No início do encontro, representantes brasileiros insistiram que o Brasil não mudaria de posição sobre a questão da inclusão de mercado na proposta. No entanto, o embaixador Everton Vargas sinalizou uma amenização de postura.
"Tudo é negociável. Cada país chega com uma posição inicial, mas não é inflexível", disse Vargas, suavizando bastante o tom, em comparação com anteriores declarações de representantes brasileiros.
Celso Amorim comparou a dificuldade de resolver o atual impasse sobre desmatamento com questões que ele teve que solucionar na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Para o ministro, vai ser possível aparar as arestas do grupo até 2009, quando o protocolo que vai substituir o atualmente em vigor, de Kyoto.
"Todos procuram alguma coisa em comum", resumiu.
O ministro esteve em Bali para participar do encontro informal entre ministros do comércio sobre mudança climática durante o fim de semana. Em seguida, ele viaja ao Timor Leste e volta a Bali na quarta-feira para participar do encontro da ONU.
Na reunião, Amorim aproveitou para defender a inclusão do etanol brasileiro em uma lista apresentada pela União Européia e pelos Estados Unidos, com 43 produtos que terão o seu regime tarifário flexibilizado por serem ambientalmente corretos.