Opinião
A diferença entre a cimeira e a baixaria
Não sei quem é o responsável por não se ter convidado também o imperador Ming, o Lex Luthor, a Bruxa Má, o Darth Vader e o dr. Hannibal Lecter, mas o esquecimento é imperdoável
A cimeira UE-África começa amanhã, e eu estou tão excitado que tenho dificuldade em conter a comoção. Acontece-me isto com cimeiras em geral, mas esta reúne um conjunto de atributos que a tornam especialmente interessante. Desde logo porque se realiza no nosso país, o sítio ideal para uma cimeira EU-África na medida em que acaba por constituir território neutro: isto nem é bem Europa nem é exactamente África, embora esteja próximo das duas. Assim é que é bonito: toda a gente se sente em casa. Os europeus porque estão, de facto, na Europa; os africanos porque se encontram num país que tem níveis de desenvolvimento muito próximos dos seus.
Quanto aos convidados, talvez haja dois ou três aspectos a melhorar. Estarão presentes na cimeira José Eduardo dos Santos, que é ditador em Angola desde 79; Kadhafi, que também mantém uma ditadura muito engraçada na Líbia desde o final dos anos sessenta; Teodoro Obiang Nguema, que dirige à bruta a Guiné Equatorial desde 79; e Robert Mugabe, o campeão dos direitos humanos no Zimbabué. Não sei quem é o responsável por não se ter convidado também o imperador Ming, o Lex Luthor, a Bruxa Má, o Darth Vader e o dr. Hannibal Lecter, mas o esquecimento é imperdoável. Uma oportunidade como esta para reunir à mesma mesa os principais vilões da História não deveria ter sido desperdiçada. Dizem--me muito bem de Mugabe, mas por muito que valha mais sozinho do que todos os criminosos do 007 juntos, julgo que teria sido simpático poder vê-lo à conversa com Ming, ou a espancar a Bruxa Má. Enfim, fica para a próxima.
Também no que diz respeito ao alojamento há erros que devem ser evitados no futuro. Por exemplo, nenhum dos ditadores vai ficar alojado em Caxias, como seria apropriado. E Kadhafi vai pernoitar numa tenda que instalará junto ao Forte de São Julião da Barra. Não sei que raio de fama tem a nossa indústria hoteleira na Líbia, mas o certo é que Kadhafi prefere ir fazer campismo selvagem para Oeiras a ficar num hotel. Confesso que, sempre que passava na marginal, punha-me a pensar no que seria preciso fazer para que as autoridades me deixassem montar ali uma barraca com vista para o mar. Durante muito tempo pensei que seria difícil ou até impossível. Afinal, basta assassinar meia dúzia de inimigos políticos. Às vezes é importante não desistirmos dos nossos sonhos, pois eles estão mais próximo do que imaginamos. Kadhafi é, neste ponto, uma referência e uma inspiração, quer para assassinos quer para campistas.
escrito pelo Ricardo dos gatos fede orentos