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 Civilizações aliadas (II)

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Vitor mango

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MensagemAssunto: Civilizações aliadas (II)   Civilizações aliadas (II) EmptySex Dez 28, 2007 6:25 am

Civilizações aliadas (II)


Nuno Rogeiro, Comentador político

Apropósito da "aliança das civilizações", lembremos como um pequeno artigo pode ter consequências devastadoras.

Em 1993, Samuel Huntington publicou, no boletim "Foreign Affairs", o escrito "The Clash of Civilisations?", mais tarde desenvolvido em livro, englobando novas ideias, e respostas a críticas acesas.

No estudo respondia-se a Francis Fukuyanma, e à tese "Neo-Hegeliana" de que o conflito ideológico acabara, com o colapso do comunismo de estado, e da "Guerra Fria".

Pegando precisamente em Hegel, entre outras referências, ou influências, mais ou menos explícitas, Huntington desenvolvia uma "hipótese de trabalho", que hoje nos pode parecer banal, ou traduzir uma realidade crua. Previa que os conflitos mais graves do período pós-ideológico poderiam não ser determinados pela posse de território, pela economia, pela sucessão de chefes ou dinastias, ou pelas doutrinas políticas, mas antes pelas diferenças culturais e religiosas. Isto é, pelas linhas de fractura entre "civilizações".

Na linha de Hegel, sempre difícil de decifrar no que toca à diferença entre verificação e predicação (fala-se do que é, ou do que deve ser?), Huntington foi interpretado por uns como desejando o choque de culturas (e, eventualmente, a ascensão da civilização "ocidental"), e, por outros, como tentando descrever um mero facto, sem o valorizar ou censurar.

Uma terceira linha de exegese Hegeliana afirmava que o politicólogo americano se limitava a revelar, por detrás da confusão dos eventos correntes, a "racionalidade" imanente, e as linhas de força da vida internacional.

No aspecto dos "conselhos", Huntington não se abstinha, porém. Recomendava que as "civilizações" se aliassem por géneros (e, ao mesmo tempo, explicava que seria assim, por natureza), mas em última análise, prevenia que a próxima guerra obrigaria as culturas a uma maior tolerância, e a comunidade internacional a um incrementado realismo, na resolução do que, de outro modo, pareceria um conflito mais destrutivo do que a bipolarização entre capitalismo e sovietismo.

Claro que, como termo e conceito, "civilização" é uma entidade ambígua.

Em tempos diversos (da "democracia" grega à época colonial), "civilização" e "progresso", ou "modernização", apareciam de mãos dadas. "Civilizados" seriam os que tinham agregado certas noções de comportamento "avançado", novas tecnologias, aquisições científicas, formas jurídicas e de gestão social consideradas "ideais", e "bárbaros" eram os que se mantinham à porta desses padrões, numa espécie de noite, ou bruma, cultural.

"Civilização" podia assim aparecer ligada à noção de "superioridade", e não apenas de "diferença".

Isso causa problemas evidentes, quer à noção de "conflito", quer à de "aliança".

Deve dizer-se que, com a morte (anunciada?) de Benazir Bhutto, o espectro desses problemas, e a avalanche em que se podem tornar, passam a ser , outra vez, funestas primeiras páginas dos jornais.

Eis o "choque das civilizações", ao vivo, e com consequências.

Nuno Rogeiro escreve no JN, semanalmente, às sextas-feiras
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