Cadilhe e Talone 'ameaçam' o Banco de Portugal
RENATO SANTOS E PAULA CORDEIRO
Miguel Cadilhe e João Talone, ex-administradores do Banco Comercial Português (BCP), já pediram uma audiência a Vítor Constâncio, governador do Banco de Portugal, para que este esclareça quem são de facto os gestores que podem ficar inibidos de exercer actividade no sector financeiro, apurou o DN. Em causa estão as investigações em curso pelas autoridades de supervisão (Banco de Portugal e Comissão de Mercados de Valores Mobiliários) relativamente à compra de acções do banco através de praças offshore, no âmbito de aumentos de capital recentes.
A polémica rebentou na semana passada quando, na quinta-feira, Vítor Constâncio chamou ao início da tarde Filipe Pinhal e Christopher de Beck, respectivamente, presidente e vice-presidente do BCP, para os informar de que não se podiam recandidatar aos órgãos sociais do banco. No dia seguinte, Vítor Constâncio reuniu com os principais accionistas do BCP e alertou para a necessidade de haver alternativas à gestão de Filipe Pinhal por existirem fortes indícios de ilícitos contra-ordenacionais suficientemente graves, dando a entender que poderia haver inibições dos membros de órgão sociais do banco entre 1999 e 2007. Constâncio admitiu ainda a necessidade de um consenso alargado entre os accionistas para resolver a crise de liderança que se vive no banco. Perante esta exposição, os accionistas reuniram logo no dia seguinte e convidaram Santos Ferreira a liderar uma lista que acabou por reunir o apoio do núcleo duro de accionistas do BCP, que entretanto ontem foi entregue ao presidente da mesa da assembleia geral. Poucos minutos antes de terminar o prazo legal para entrega de listas candidatas aos órgãos sociais do BCP, Miguel Cadilhe apresentou uma reclamação do prazo que entretanto já aceite - até às 24 h de domingo podem entrar listas alternativas.
O Banco de Portugal, por seu lado, fez um comunicado onde esclarece que já abriu um processo de contra-ordenação ao BCP e a membros dos seus órgãos sociais, precisando que "até à conclusão dos processos legalmente exigíveis, nenhum membro dos órgãos sociais do BCP está actualmente inibido de concorrer ou exercer funções no sistema bancário, apesar dos riscos que decorrem do eventual envolvimento nos factos sob investigação que se vier a apurar".
Do lado dos gestores do BCP alegadamente visados pelo Banco de Portugal, cerca de 27 no total, diz fonte próxima que existe um clima de grande "indignação" e que alguns admitem mesmo processar o Banco de Portugal e Vítor Contâncio.
Contactada pelo DN, fonte oficial do Banco de Portugal escusou-se a fazer comentários e remeteu a posição da instituição para o comunicado divulgado ontem. |