Índios lakota em luta pela sua independência
MANUEL RICARDO FERREIRA, Nova Iorque
Porta-voz do grupo diz que o seu povo recusa viver em sistema colonial
Nas duas últimas semanas de 2007, houve uma intensa actividade diplomática em Washington que, no entanto, passou quase despercebida. Um grupo que incluía os dirigentes do Movimento Índio Americano foi recebido no Departamento de Estado e nas embaixadas da África do Sul, Bolívia, Chile e Venezuela, onde explicou os motivos por que deve ser concedida a independência à nação lakota, pedindo ao mesmo tempo apoio para que isso aconteça. O grupo vai continuar as visitas às embaixadas.
O actor Russell Means, porta-voz do grupo, diz que as acções do Governo dos EUA invalidaram os tratados assinados com a nação lakota em 1851 e 1868, que os índios estão cansados "de viver num sistema colonial de apartheid" e que a única solução é negociarem a independência.
O território que os lakota reclamam para a nova nação integra partes do Oeste dos Dakotas do Norte e do Sul e do Nebraska, e do Leste dos estados do Wyoming e Montana. Means explica que os residentes do novo país deixariam de pagar impostos, os seus chefes seriam informalmente escolhidos pelos líderes comunitários, e os não índios que lá se encontram continuariam a poder viver aí.
"Fomos mandatados em 1974 pelo conselho dos anciãos para fazermos duas coisas: primeiro, estabelecer relações com a comunidade internacional; e segundo, está claro, restabelecermos a nossa independência", disse Means.
Mas não é claro que seja esse o desejo de todos os índios. Rodney Bordeaux, presidente da tribo sioux rosebud, diz que o seu povo não tem qualquer desejo de secessão: "A nossa posição é a de que temos de fazer cumprir os tratados e estamos constantemente a lembrar o Congresso disso. Fazemos pressão para que os tratados sejam mantidos e cumpridos porque eles são a base do nosso relacionamento com o Governo federal." Means responde que "não representamos colaboracionistas, os índios de Vichy e esses governos tribais estabelecidos pelos EUA para assegurarem a nossa pobreza e o roubo das nossas terras e recursos".
Não é a primeira vez, nem será a última, que tribos índias querem reconquistar a independência, mas desta vez alguém lhes está a dar ouvidos. Gustavo Guzman, embaixador boliviano em Washington, presente numa conferência de imprensa ao lado de Means, explicou: "Estamos aqui porque as exigências dos povos indígenas da América são as nossas exigências. Enviámos os documentos que nos foram presentes na embaixada para o nosso Ministério dos Negócios Estrangeiros na Bolívia, onde estão a ser analisados."