Análise: Rafah é símbolo de isolamento palestino
Jonathan Marcus Do Serviço Mundial da BBC em Londres
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Dezenas de milhares atravessaram a fronteira com o Egito |
A passagem de dezenas de milhares de palestinos para o Egito no posto de fronteira de Rafah ilustra muitos dos problemas e
armadilhas no processo de paz do Oriente Médio. No passado recente, a esperança era de que Rafah se tornaria o símbolo de um novo começo para a Faixa de Gaza.
O
que começou como um posto de fronteira monitorado por enviados
europeus, com aspirações de se tornar uma ligação permanentemente
aberta entre a Faixa de Gaza e o Egito, se tornou na prática mais um
símbolo de isolamento e "aprisionamento" para muitos palestinos.
Assista na BBC Brasil: Palestinos se abastecem no Egito O posto de Rafah está localizado nos limites da poeirenta cidade de mesmo nome, na fronteira sudoeste da Faixa de Gaza. Fica
na fronteira entre o território palestino e o egípcio.
Suas operações são administradas por um acordo fechado entre Israel e a Autoridade Palestina em novembro de 2005, por ocasião
da retirada das tropas isralenses do território.
O
funcionamento era para ser monitorado por uma missão de assistência da
União Européia. Mas isso é tudo, em vários aspectos, teórico, já que o
posto de Rafah está fechado desde que o Hamas assumiu o controle do
território em junho do ano passado.
O envolvimento da União Européia foi crítico para garantir que o acordo de medidas de segurança fechado por israelenses e
palestinos no posto fosse implementado em sua totalidade.
Inicialmente, o posto permaneceria aberto cinco horas por dia, na esperança de que eventualmente se tornasse uma operação
de 24 horas por dia.
Espera Em
junho de 2006, a passagem foi fechada quando tropas israelenses
realizaram sua primeira grande operação em Gaza desde a retirada – uma
resposta, dizem os israelenses, à captura de um soldado israelense por
militantes palestinos e aos ataques com foguetes direcionados ao sul de
Israel. A passagem ficou fechada por cerca de dois meses.
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Posto "é portão fechado às aspirações palestinas" |
O posto permaneceu fechado na maior parte do tempo desde que o Hamas assumiu o poder.
Inicialmente, monitores europeus procuraram segurança quando aumentou a briga interna entre os palestinos. Mas eles nunca
voltaram aos seus postos.
A passagem de Rafah permanece um portão fechado para as aspirações palestinas. Seu futuro depende de política – entre Israel
e palestinos, entre facções palestinas e entre Egito e Israel.
Para Israel, os postos de passagem são vistos quase que exclusivamente sob o prisma de segurança – como um meio de exercer
pressão sobre a liderança do Hamas (mas não está claro como a mecânica dessa pressão funciona na prática).
Críticos insistem que a única conseqüência do crescente isolamento da
Faixa de Gaza é a criação do sofrimento coletivo e uma
panela de pressão de descontentamento que, um dia, poderá explodir.
E é por causa disso que os egípcios estão tão nervosos. Cairo tem suas próprias razões para monitorar e controlar o acesso
de entrada e saída da Faixa de Gaza.
Cairo enfrenta o dilema de manter uma relação com Israel, aliviando o sofrimento e o isolamento no território, enquanto teme
que a influência ideológica do Hamas se espalhe por movimentos próximos dentro do próprio Egito.