Isabel Meirelles
Made in Portugal
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Longe vão os tempos em que os portugueses eram vistos como os operários da construção civil ou as mulheres a dias da Europa, detentores de poucas qualificações, mas de uma vontade tenaz de vencer no domínio profissional. Longe vão os tempos em que os suíços faziam projectos, os ingleses horários e os alemães gráficos, e nós lançávamos mãos do conhecido nacional desenrascanço, que ainda por cá sobrevive.
Porém, nesta década surgiu, assim de repente, como quem não quer do nada, quiçá de geração espontânea ou então de incubação prolongada, mas de forma inusitada, uma série de notáveis do nosso país que se vêm afirmando nas instituições e organismos europeus.
Esta geração de portugueses, que tem o seu expoente máximo no presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, que é reputado ser o terceiro homem mais poderoso do mundo, e se calhar por cause, começou a dar impressão de ter desencadeado uma epidemia muito saudável, ou então uma cadeia de solidariedade, no limite a moda do made in Portugal.
Não me quero referir a futebolistas, fadistas, cientistas, investigadores, escritores e tantas outras profissões que ligaram o seu nome a esta nação valente e imortal, mas apenas a este nicho de mercado, como se diz em linguagem comercial, chamado União Europeia.
Antes de mais, e nem sei se foi esta a ordem, começou com Pedro Pedreira eleito director executivo da Autoridade de Supervisão do sistema europeu de navegação por satélite, Galileo, por mérito próprio na sequência de um concurso lançado em Setembro de 2004 em que bateu de forma isolada e mesmo solitária os candidatos franceses e austríaco. Este organismo, com funções de autoridade reguladora, será detentor da totalidade do sistema europeu de radionavegação que procura impor-se ao sistema americano GPS. Coisa de monta, como se pode intuir.
Depois, seguiu-se, à frente da Eurojust, o procurador-geral-adjunto José Lopes da Mota. Este novo organismo da União Europeia visa reforçar a eficácia das autoridades competentes nos Estados-membros na luta contra formas graves de criminalidade transnacional e organizada e tem objectivo primacial incentivar e melhorar a coordenação das investigações e dos procedimentos penais, prestando igualmente apoio aos Estados-Membros no sentido de tornar as suas investigações mais eficazes. Ou seja, numa altura em que o combate ao terrorismo e criminalidade organizada é uma prioridade, ter um português no vértice da pirâmide é seguramente uma bandeira honrosa que deve ser agitada e divulgada.
Finalmente, ou nem por isso, o juiz Vítor Caldeira foi eleito esta semana para suceder ao austríaco Hubert Weber na presidência do Tribunal de Contas Europeu, sendo também o primeiro português a exercer este cargo e o décimo primeiro presidente desta importante instituição, que muitos classificam como a consciência financeira da União Europeia, que tem a magna missão de fiscalizar a boa utilização dos dinheiros comunitários, designadamente os dos fundos estruturais onde, como se sabe, existem muitas fraudes. Esta eleição pressupõe, até por isto, a estatura moral e probidade de mais este português de sucesso.
Estes são os portugueses do nosso contentamento, mais conhecidos por estarem em lugares de relevo cimeiro da União Europeia, mas que em conjunto com muitos outros desconhecidos levam até aos quatro cantos da Europa o melhor do que se faz em Portugal.