XI Congresso da CGTP
Manuel Carvalho da Silva associa desigualdades sociais a corrupção
16.02.2008 - 08h46
Manuel Carvalho da Silva traçou um quadro negro económico, social e político do país.
No arranque do XI Congresso da CGTP, o seu líder histórico, Manuel Carvalho da Silva, acusa o Governo de se submeter “de forma chocante” ao poder económico e associa desigualdades sociais a corrupção.
O secretário-geral da CGTP, Manuel Carvalho da Silva, traçou ontem um quadro negro económico, social e político do país. O líder da central sindical relacionou as desigualdades sociais com a corrupção e acusou o actual Governo de se submeter “de forma chocante” aos interesses do poder económico.
Na abertura do XI Congresso da CGTP, que começou ontem e que termina hoje em Lisboa, Carvalho da Silva afi rmou que “as desigualdades sociais estão em parte signifi cativa relacionadas com a corrupção”. E, de uma assentada, nomeou os ingredientes que estão a levar Portugal para “um caminho de degradação, de difícil retorno”: “Um Estado democrático fraco; o tráfi co de favores e de infl uências entre o político e económico e entre o público e o privado; um sistema de justiça fragilizado, com crescentes sinais que o desacreditam e com falta notória de meios para atacar a grande criminalidade (...), uma cultura de não cumprimento de leis, de fuga ao fi sco e à segurança social, e de não aplicação de legislação de trabalho, insuficientes mecanismos de controlo de transparência nos gastos do Estado; (...) o frutuoso negócio dos pareceres e estudos que, na prática, conduz à existência de estruturas ou de funções paralelas nos ministérios”.
Numa palavra, o país está “numa situação difícil e de alguns perigos”. Dirigindo-se directamente ao executivo de José Sócrates, Carvalho da Silva acusou o Governo de se submeter “de forma chocante aos interesses e às imposições dos grandes senhores do poder económico e fi nanceiro e às orientações do grande patronato”.
Os baixos salários, a precariedade no emprego, em particular entre os jovens, e as desigualdades sociais foram outros pontos importantes do discurso de Carvalho da Silva, ouvido por perto de 900 delegados. Lembrou que 10 por cento das famílias dispõem de 74 por cento de activos financeiros, enquanto mais de 300 mil famílias lutam com falta de rendimentos, dificuldades de acesso a um nível mínimo de bem-estar e alojamento condigno. Uma situação que considerou “revoltante”.
Entre os convidados estava o ex-presidente da República Mário Soares, que elogiou o discurso do líder da CGTP e reforçou a ideia da injustiça social: Portugal “é um dos países europeus ou o país com maiores desigualdades”.
Em jeito de balanço dos últimos quatro anos, o líder histórico da central sindical afi rma que a CGTP travou “grandes combates com êxito”, apontando como exemplo o bloqueio à privatização das pensões de reforma, a concretização de um grande número de convenções colectivas e a proposta de crescimento do Salário Mínimo Nacional para os 500 euros, em 2011.
Ao nível de mobilização dos trabalhadores, apontou como exemplos, entre outros, as comemorações do 1.º de Maio, a greve geral de Maio de 2007 e o protesto em Outubro de 2006 em Lisboa.
Foi também anunciado que cerca de 168 mil trabalhadores se sindicalizaram nas estruturas da CGTP.
Uma das próximas acções da central, no âmbito do combate à precariedade do emprego, é já no próximo dia 28 de Março, em que promete “a maior manifestação de jovens trabalhadores”. Para hoje, o congresso tem marcada a eleição do conselho nacional, do qual sairá o futuro secretário-geral (Carvalho da Silva), escolhido só após o congresso.
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