Bento 16 aumenta ritmo de criação de novos santos e beatos
Assimina Vlahou
De Roma para a BBC Brasil
O papa Bento 16
O papa já fez 577 santos e beatos desde que assumiu pontificado
Em quase três anos de pontificado, o papa Bento 16 fez 563 beatos e 14 santos, totalizando 577 - um terço dos 1.828 nomeados por João Paulo 2° em seus 27 anos no comando da Igreja Católica.
O número, atualizado, foi divulgado nesta segunda-feira pelo cardeal José Saraiva Martins, prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, e demonstra que o ritmo aumentou apesar do papa ter pedido maior cuidado nos processos.
"(O dado) confirma a sensibilidade do papa pela santidade da igreja", comentou o cardeal, durante a apresentação de um documento sobre as normas que regulamentam as beatificações e canonizações.
As leis em vigor foram aprovadas em 1983 e continuam válidas, mas o Vaticano pede, no novo documento, chamado Sanctorum Mater ("Igreja-Mãe dos Santos", em latim), que as normas sejam aplicadas à risca.
De acordo com o Vaticano, o objetivo do documento é esclarecer a legislação e ensinar como ela deve ser aplicada.
Atenção e seriedade
O documento pede, sobretudo aos bispos locais, maior sobriedade e rigor antes de decidir a abertura de um novo processo, além de maior cuidado na avaliação dos milagres.
"Não haverá maior rigor, mas vamos promover a aplicação à risca das normas vigentes", disse o cardeal.
O padre Paolo Molinari, postulador da canonização de José de Anchieta, considera as novas instruções apenas como um reforço das indicações já feitas pelo papa Bento 16.
"(O texto) confirma tudo o que se fez até agora e pede que os bispos sejam mais cuidadosos e não comecem causas só para satisfazer um grupo de freiras que desejam ver a fundadora de sua ordem logo canonizada.
Padre Paolo Molinari, postulador de José de Anchieta
"(O texto) confirma tudo o que se fez até agora e pede que os bispos sejam mais cuidadosos e não comecem causas só para satisfazer um grupo de freiras que desejam ver a fundadora de sua ordem logo canonizada", comentou o padre.
Na avaliação do religioso, o documento pede maior atenção, seriedade e rigor nas investigações dos milagres, que devem ser comprovados cientificamente, do ponto de vista histórico, teológico e médico.
Anchieta
Molinari admite que o maior cuidado exigido pelas novas recomendações do Vaticano pode atrasar a busca por um milagre que possibilite a canonização de José de Anchieta.
"Há grande devoção, registro de muitas graças recebidas pelos fiéis, mas nada que possa ser submetido à avaliação científica", afirma o padre.
José de Anchieta morreu em 1597, foi beatificado em 1980 por João Paulo 2°, mas ainda não se tornou santo, enquanto Madre Paulina e Frei Galvão, beatificados depois dele, já foram canonizados.
Para que Anchieta seja considerado santo, ainda falta comprovar que houve um milagre depois de sua beatificação.
Mas, de acordo com o postulador, as comissões vaticanas não estão examinando no momento nenhum caso de cura que a medicina não explique e que tenha sido atribuído ao beato Anchieta.