O génio do Renascimento apresentava dificuldades de comunicação e tinha tendência para o isolamento. As suas características levaram um investigador britânico a lançar uma nova e audaz tese, associando-o ao autismo
O génio renascentista Miguel Ângelo, autor dos frescos da Capela Sistina e da estátua de David, entre muitas outras obras-primas, pode ter sofrido de autismo, segundo sugerem investigações recentes.
O estudo em causa, publicado no ‘Journal of Medical Biography’, fornece uma síntese de novos factos sobre o famoso pintor, escultor e arquitecto, cuja obra marcou o século XVI e ficou associada para sempre ao génio do Homem. O psiquiatra britânico e autor principal da pesquisa, Muhammad Arshad, defende que Miguel Ângelo “era solitário, absorvido em si mesmo e concentrava toda a atenção nas suas obras-primas”. Tudo características típicas do autismo.
O estudioso sustenta que o comportamento de Miguel Ângelo é conforme aos critérios definidores da síndroma de Asperger, também chamada autismo de elevado funcionamento.
O autismo é uma desordem complexa que pode não afectar a inteligência, mas influencia o modo como se recebe e absorve informação. Entre os sinais que permitem identificá-lo contam-se a dificuldade na comunicação, o isolamento social, a necessidade de controlo e a obsessão por interesses muito específicos. Tudo isto torna a vida diária difícil à maior parte dos autistas, embora alguns consigam viver relativamente bem e até frequentar o ensino regular.
NÃO TIRAVA OS SAPATOS
Mas em que se baseia, afinal, Arshad para afirmar que Miguel Ângelo era autista? O investigador nota, antes de mais, que os homens da família dele apresentam “traços autistas” e perturbações de humor. A própria família de Miguel Ângelo considerava que ele era complicado e tinha problemas em aplicar-se a fazer fosse o que fosse.
Arshad pinta ainda Miguel Ângelo como distante e solitário, afirmando que o mentor do artista chegou a descrevê-lo mesmo como incapaz de fazer amigos ou manter qualquer relação. Num exemplo concreto, Arshad conta que o famoso pintor não foi ao funeral do irmão, o que, garante, revela “incapacidade para mostrar emoções”.
A fama que perdurou através da História, descreve Miguel Ângelo como um homem obcecado pelo trabalho e pelo controlo de todos os aspectos da sua vida – família, dinheiro e tempo. Perder o controlo causava-lhe enorme frustração. Ao mesmo tempo, era capaz de criar em pouco tempo muitas centenas de cenas para o tecto da Capela Sistina, nenhuma delas igual, nem repetindo qualquer pose.
Sustenta ainda o investigador que Miguel Ângelo tinha dificuldade em manter uma conversa e, frequentemente, abandonava a meio uma situação de interacção social. Considera-o, além disso, irritável, sarcástico e, às vezes, paranóico. Também é descrito como tendo mau génio e violentos acessos de fúria. Miguel Ângelo raramente tomava banho, dormia frequentemente vestido e nem se descalçava. “Passava tanto tempo sem tirar os sapatos que, quando o fazia, a pele vinha atrás, como a pele de uma cobra.”
A concluir, Muhammad Arshad expõe o resumo da sua investigação: “A rotina de trabalho, o estilo de vida invulgar, o facto de ter interesses limitados, a falta de habilidade social e de comunicação e vários aspectos relacionados com o controlo são traços do autismo de alto funcionamento