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 "Sou o carregador de malas de Isabel Allende"

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Xô Esquerda

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MensagemAssunto: "Sou o carregador de malas de Isabel Allende"   "Sou o carregador de malas de Isabel Allende" EmptyTer Fev 26, 2008 1:11 am

"Sou o carregador de malas de Isabel Allende"



William C. Gordon está em Lisboa a apresentar livro.


Um homem todo vestido de negro. Chapéu preto que não tira por nada. Podia ser um pregador de novas religiões, como o pai. Chama-se William Gordon. "Willy who?", perguntaram--lhe muitas vezes. "Gordon, William Gordon", ia respondendo, paciente, este William, marido da campeã de vendas Isabel Allende, advogado forense durante 40 anos, filho de um padre que inventou a sua própria religião e, depois da morte deste, criado pela sua amante, "uma bruxa mexicana" que o levou aos seis anos para o gueto onde vivia e onde só moravam hispânicos. Aprendeu espanhol, forçosamente, e rápido e faz questão de ir praticando. "Sou muito aventureiro e quando não sei uma palavra, invento-a."

É agora escritor com um livro publicado e o segundo pronto a editar, depois de a mulher lhe ter chumbado a primeira tentativa nas letras: "Era a história de um anão pervertido que tinha especial prazer em andar ao colo da sua domadora", conta William Gordon ao DN, num espanhol com poucos vestígios de sotaque californiano.

São histórias e mais histórias que vai desfiando sem pausas, falador nato e despudorado no auto-retrato: "Sou uma pulga no cu do elefante." É assim que se vê enquanto escritor, comparativamente à mulher. Até agora via-se "primeiro, como carregador das malas de Isabel e depois advogado". Continua a dizer que carregar as malas de Allende ainda é a sua principal função, apesar de já sair com a sua própria bagagem para falar do que escreveu: um livro de mistério traduzido em dez línguas e editado em Portugal pela D. Quixote (ver caixa).

Apresentam-no como "William C. Gordon, o marido de Isabel Allende". Algum incómodo por ser assim? "Nenhum. É isso que sou há 20 anos." Acompanha-a sempre nas viagens de promoção pelo mundo inteiro. Escreve em blocos, toma notas em pedaços de papel... É um escritor nómada, ao contrário da companheira que escreve no silêncio de casa. Acompanha-a e só depois vem o resto. Só depois, também, veio a sua incursão na escrita, que sempre sentiu como uma vocação adiada. "As histórias estão dentro de mim, visualizo-as, e essa é uma das principais matérias de que é feito um escritor. Quem não conseguir ver uma história, jamais a conseguirá escrever."

E foi coleccionando histórias. Sendo personagem de outras. Protagonista da sua, que a mulher não o deixou contar, e roubou para um livro seu. Chamou-lhe Plano Infinito e vendeu milhões em todo o mundo (ver texto ao lado). Mas não faltavam outras. No tribunal, nos jornais, nas conversas ao balcão do bar de que foi dono num dos locais menos recomendados da cidade onde viveu. "Escreve sobre o que sabes", recomendou-lhe a mulher depois de ler a história do anão pervertido. "Ela odiou o livro. O meu agente disse que era tão pesado que mal se podia levantá-lo da mesa."

Abandonou-o e seguiu o conselho de Allende. Avançou para o que conhecia da sua experiência como advogado criminal e na construção narrativa, usou a técnica da barra. Falar rápido, ser conciso, ir directo ao assunto, evitar rodeios e floreados. Eficácia. Diz que aprendeu isso com o pai, pregador de profissão que sabia usar a palavra para atrair as atenções. "Treinava com uma laranja que prendia ao tecto. Fazia-lhe incidir um foco e falava para a laranja durante duas horas." Ele ouvia e soube da importância do vocabulário. Primeiro usou-o na oralidade, frente aos jurados, agora na escrita.

E Allende não é a sua primeira leitora. Há duas pessoas que o fazem antes. Para editar e corrigir erros gramaticais. A autora de A Casa dos Espíritos é a terceira a ler o que marido escreve e não o poupa. "Desfaz-me. É a crítica mais feroz que encontro, mas sei que se quero ser bom escritor tenho de aprender com os mestres e tenho a maior de todos em casa." E agora tudo o que William C. Gordon quer é ser escritor.

dn
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