Guerra do Iraque 'custa mais de US$ 3 tri', diz Stiglitz
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Livro de Stiglitz será lançado nesta semana |
A guerra do Iraque poderá custar aos contribuintes americanos mais de US$ 3 trilhões (cerca de R$ 5,1 trilhões), segundo o
prêmio Nobel de economia Joseph Stiglitz. No livro
A guerra de US$ 3 trilhões - O custo real do conflito no Iraque (em tradução livre), a ser lançado nesta semana, Stiglitz e a co-autora Linda J. Bilmes investigam os números por trás da
guerra e os prejuízos para a sociedade.
"Quando
fomos à guerra, o governo Bush disse que iria custar entre US$ 50
bilhões e US$ 60 bi. Na época, um economista da Casa Branca (Larry
Lindsey), disse que o custo poderia chegar a US$ 200 bi. Ele foi
demitido e sua declaração considerada "bobagem". O custo estimado hoje
é que exceda US$ 3 trilhões", disse Stiglitz em entrevista à BBC.
Para dar a dimensão deste custo, Stiglitz explica que apenas um sexto da quantia seria suficiente para, por exemplo, resolver
todos os problemas de seguridade social nos Estados Unidos pelos próximos 50 a 75 anos.
"Atualmente os Estados Unidos dão US$ 5 bilhões de ajuda à África por ano. Isso representa 10 dias de guerra no iraque. Se
incluirmos os outros custos seriam 7 a 8 dias. Isso contra um ano de ajuda à África."
"Pelo custo de duas semanas de guerra, poderíamos acabar com o analfabetismo no mundo", estima Stiglitz.
Conflitos anteriores O livro ainda compara este conflito com outros, anteriores, em que os Estados Unidos estiveram envolvidos.
"Esta é a segunda maior guerra dos Estados Unidos, depois do Vietnã, e a segunda maior em custos, depois da 2ª Guerra Mundial.
Mas quando vimos o custo por soldado, este é ainda maior no Iraque."
Segundo
o economista, o custo de cada soldado na 2ª Guerra, em que 16,3 milhões
de soldados americanos lutaram por quatro anos, foi de menos de US$ 100
mil (em valores ajustados para 2007), enquanto que a guerra do Iraque
vem custando US$ 400 mil por soldado.
Stiglitz
explica que, nesta guerra, uma das diferenças que contribui para o
aumento do custo é que, normalmente, o número de soldados feridos em
uma guerra corresponde a duas vezes o número de mortos, mas nesta
guerra, segundo o economista, o número de feridos chega a 15 para cada
soldado morto.
Muitos desses ferimentos são problemas que os Estados Unidos terão que bancar pelos próximos 50 anos, e isso acrescenta ao
custo da guerra, diz Stiglitz.
"Uma das razões para escrever o livro é uma tentativa de mostrar o que está acontecendo", disse o economista à BBC.
"A devastação é grande", afirma. "Em uma em cada cinco famílias com um soldado deficiente, uma pessoa terá que pedir demissão
do emprego para cuidar dele", diz.
Desaquecimento econômico Para o Nobel de economia, a guerra do Iraque também tem participação no desaquecimento da economia americana e na possível
recessão.
Segundo Stiglitz, o custo da guerra é muito alto e, para "esconder" esse custo, o governo americano relaxou as políticas de
monitoramento e regulamentação, estimulando uma bolha de consumo, principalmente no mercado imobiliário.
"Estávamos com dinheiro emprestado, comprando tempo, e este tempo agora acabou. Estamos agora diante de uma desaceleração
da economia e, possivelmente, uma recessão."
"A
guerra também fez com que o preço do petróleo aumentasse muito. Isso é
dinheiro jogado pelo ralo. Esse foi um dos grandes problemas dessa
guerra para a economia. Antes da guerra, o preço era de US$ 23 a US$ 25
o barril de petróleo, e as bolsas de futuro acreditavam que a cotação
permaneceria estável pela próxima década. Agora o preço do barril chega
a US$ 100 - principalmente por causa das incertezas provocadas pela
guerra."
Ao responder se os americanos teriam uma atitude diferente em reação à guerra se soubessem o custo de antemão, Stiglitz acredita
que a resposta é sim.
"Se soubessem que teriam que pagar uma conta de US$ 3 trilhões com um resultado incerto - talvez haja paz no Oriente Médio,
mas talvez não - eles diriam: 'Será que não podemos pensar num modo melhor de fazer isso?'."