Eleições não devem mudar cenário político no Irã
Rodrigo Durão Coelho Da BBC Brasil no Cairo
|
|
|
|
Rejeição de candidatos dificulta mudanças políticas no país |
As
eleições parlamentares iranianas desta sexta-feira não devem mudar
radicalmente o cenário político do país, segundo analistas. Mais
de 4,6 mil candidatos competem por 290 lugares no parlamento iraniano.
Quase 40% dos 7.597 candidatos que originalmente se inscreveram foram
desqualificados em um sistema que reprovou qualquer um que tivesse um
passado considerado inadequado para um parlamentar.
A maioria dos candidatos rejeitados são reformistas.
"Qualquer
que seja o resultado, não deve afetar muito a posição do governo",
afirmou à BBC Brasil o analista político Ali Ansari, especialista em
Irã da universidade britânica de St. Andrews. "Essas eleições não são
livres ou democráticas."
O correspondente da BBC em Teerã Jon Leyne tem uma visão semelhante: "Aqueles que esperam grandes mudanças no Irã devem se
decepcionar".
Apatia O
atual parlamento iraniano é dominado por facções conservadoras e de
direita, contrárias à liberdade da imprensa e a proliferação de
organizações não-governamentais no país.
Ansari diz que o fato de que mais de um terço dos possíveis candidatos foram desqualificados pelo governo aumentou a apatia
do público em relação ao pleito.
"Uma
presença maior dos eleitores poderia significar uma rejeição maior do
governo, mas essa participação deve ser baixa, menor até do que os 50%
que quer a administração do presidente (Mahmoud) Ahmadinejad para
mostrar que o pleito teve legitimidade", afirma o analista. "Creio que
a participação deve ser da ordem dos 40%."
| O Irã está longe de ser uma democracia real mas é muito mais democrático do que quase qualquer outro país do mundo árabe ou da Ásia Central. Mas se uma grande fatia da população decidir que nada vai mudar com seus votos, então as eleições se tornam uma mera formalidade.
John Simpson, editor da BBC
|
O editor da BBC John Simpson afirma que "o Irã está longe de ser uma democracia real mas é muito mais democrático do que quase
qualquer outro país do mundo árabe ou da Ásia Central".
"Mas
se uma grande fatia da população decidir que nada vai mudar com seus
votos, então as eleições se tornam uma mera formalidade."
Economia Desde a revolução de 1979, o poder político do Irã está nas mãos dos aiatolás, os maiores líderes religiosos da vertente xiita
do islamismo.
Correspondentes afirmam que, seja qual for a composição do novo governo, não deve haver mudanças em relação a assuntos como
a política externa ou a questão nuclear.
O Irã é acusado por vários países ocidentais de usar seu programa de enriquecimento de urânio como fachada para a construção
de armas, coisa que o governo iraniano nega.
Muitos dentro do Irã dizem que a população iraniana está mais preocupada com a alta taxa de desemprego e de inflação do que
com polêmicas internacionais.
"Acredito
que, não agora, mas no futuro, a economia deve ser a causa da queda do
governo", afirma Ansari. "O país é o quarto maior produtor de petróleo
e gás do mundo, mas, mesmo assim, existe racionamento de combustíveis
desde junho de 2007."