Mão de Washington na crise envolve Grécia e NATO - Analistas políticos
Skopje, 14 Mar (Lusa) - Auto-proclamação da independência do Kosovo, a 17 de Fevereiro, fez estalar uma crise na vizinha Macedónia, marcada por nova vaga de tensão entre a minoria muçulmana e a maioria eslava, de que os analistas políticos culpam Washington.
No seguimento dos bombardeamentos da Aliança Atlântica (NATO) à Sérvia, para libertar o Kosovo (1999), os sangrentos confrontos entre a guerrilha muçulmana, albaneses do norte e noroeste da Macedónia, e as forças governamentais de Skopje ficaram saldadas pelo Acordo de Ohrid, em Agosto de 2001, apoiado pela União Europeia (UE).
Este acordo consagrou maiores direitos para os albano-macedónios, 25 por cento dos cerca de dois milhões de habitantes do país.
O recrudescimento das hostilidades na pequena república balcânica - uma das seis saídas da ex-Jugoslávia - ocorrem na recta final para a cimeira da NATO em Bucareste, de 02 a 04 de Abril, em que Skopje aspira a ser convidada a integrar a organização, juntamente com os parceiros regionais Albânia e Croácia.
Na Macedónia, o conflito entrou em espiral quinta-feira à noite, com o Partido Democrático dos Albaneses (DPA) a abandonar a coligação governamental.
A justificação é o não reconhecimento do Kosovo e o sistemático incumprimento das exigências da minoria albanesa para a autorização do uso de bandeira própria e do seu idioma.
O DPA anunciou que, não obstante, continuará a apoiar desde fora o executivo de coligação com os conservadores da Organização Revolucionária Macedónia do Interior (VMRO-DPMNE), do primeiro-ministro Nikola Grueski, para não colocar em perigo o convite de adesão da Macedónia à NATO.
A presente crise coincide também com pressões internacionais sobre Skopje para mudar o nome do país para FYROM - iniciais de "Former Yugoslavian Republic of Macedonia", Antiga República Jugoslava da Macedónia -, depois de gorados 17 anos de negociações com a vizinha Grécia, que tem uma província no norte com o mesmo nome e teme reivindicações territoriais.
A analista política Biljana Vrankovska admite que "Gruevski sai beneficiado com a crise porque pode mobilizar todas as forças políticas nacionais".
A Macedónia proclamou a independência da antiga Federação Jugoslava em 1991 e, devido à disputa com Atenas, foi reconhecida nas Nações Unidas (ONU) sob o nome FYROM.
Para o analista político Zoran Dimitrovski, Washington, em alerta face a um eventual efeito de dominó gerado pela independência do Kosovo na região, quer assegurar a estabilidade da Macedónia ao abrir as portas da NATO, insistindo para o efeito na adopção do nome FYROM.
Dimitrovski está convencido de que a decisão do DPA de abandonar o governo de coligação tem por trás os norte-americanos, que assim quiseram enviar ao primeiro-ministro macedónio uma "mensagem" para chegar a urgente entendimento com Atenas.
JHM.
Lusa/Fim