Nova Iorque gosta da ideia de um governador negro
MANUEL RICARDO FERREIRA, Nova IorqueDavid Paterson é sucessor provável de Spitzer Não
se sabe se será dentro de horas ou de dias, mas David Paterson vai ser
o próximo governador do estado de Nova Iorque, depois de o actual
governador, Eliot Spitzer, ter admitido o envolvimento num caso de
prostituição. E os nova-iorquinos acham que não é sem tempo...
Spitzer foi eleito há um ano e três meses para "limpar" a capital,
Albany. Nos oito anos anteriores, fora procurador-geral de Nova Iorque,
campeão da lei e da ordem, na origem de raides contra os "clubes de
cavalheiros" controlados pela mafia e responsável pelo desmantelamento
de redes de prostituição. As acções contra os negócios escuros na Bolsa
valeram-lhe a alcunha de "xerife da Wall Street".
Mas depressa se percebeu que esse afã persecutório não só não se
aplicava ao próprio (mentiu quanto ao financiamento da sua campanha,
feito pelo próprio e pelo pai, ambos milionários), como era usado para
fins partidários (recorreu à polícia estadual para investigar o uso de
helicópteros e aviões do estado em viagens da oposição). E se antes
havia nepotismo em Albany, agora parecia que só os amigos de Spitzer
podiam fazer negócios.
Pouco depois de Spitzer ser eleito governador, o seu banco comunicou ao
IRS ter notado movimentos estranhos nas suas contas, milhares de
dólares eram encaminhados para empresas fantasmas. Receando tratar-se
de corrupção, o IRS pediu ajuda ao FBI, que começou a investigar o
caso. E depressa percebeu que as verbas eram usadas para pagamento de
favores sexuais. Tudo ficaria por aí se Eliot Spitzer não tivesse sido
procurador geral...
O FBI decidiu investigar as empresas de fachada da rede de prostituição
Emperor's Club VIP, de que Spitzer era cliente, e que actuava em Nova
Iorque, Miami, Washington, Paris e Londres. Após mais de cinco mil
escutas telefónicas e seis mil
e-mailsanalisados, o FBI tinha elementos para fazer acusações formais. As
primeiras quatro pessoas foram presas na quinta-feira, acusados de
lenocínio. Nas transcrições das escutas, Spitzer aparece referido como
"Cliente 9", fazendo uma transferência de 4300 dólares para pagar os
serviços de uma prostituta a 13 de Fevereiro, em Washington, no Hotel
Mayflower. Spitzer ia no dia seguinte falar no Congresso e alugara um
quarto extra no hotel sob o nome George Fox. Elementos do Emperor's
Club confirmaram conhecer Spitzer como George Fox.
Avisado na sexta-feira de que estava a ser investigado, Spitzer
reuniu-se com os colaboradores e, na segunda-feira pediu publicamente
desculpas - mas não falou em demissão.
Esta é, contudo, inevitável. Ao colaborar na ida de uma mulher de Nova
Iorque para Washington para um encontro como prostituta, que, ao
atravessar fronteiras estaduais, cometeu um crime federal, o "Cliente
9" é identificado no processo como tendo conhecimento de estar a fazer
transacções financeiras ilegais, violando as leis federais contra a
lavagem de dinheiro.
O vice-governador David Paterson assume automaticamente o cargo de
governador se Spitzer sair. Negro e cego, é professor assistente da
Universidade de Columbia e foi líder da minoria no senado estadual,
sendo respeitado tanto por republicanos como por democratas. Os
nova-iorquinos dizem estar felizes com a ideia da troca.