Ucranianos estão a perceber que para ficar têm que se qualificar" Rostyslav Tronenko
EMBAIXADOR DA UCRÂNIA
EM PORTUGAL
A Embaixada da Ucrânia tem registo dos ucranianos que estão a sair de Portugal?
Não, quem tem esses dados é o Serviço e Estrangeiros e Fronteiras. Mas
não temos a ideia de que estão a sair muitas pessoas de Portugal.
As associações e os próprios imigrantes indicam que sim.
Não diria isso, pela quantidade de pessoas que atendemos diariamente na
Embaixada. Estão a aumentar os ganhos consulares, o que têm a ver com a
inscrição de novos cidadãos. Penso que a imigração ucraniana chegou,
agora, ao nível da reunificação familiar. São sobretudo familiares dos
que cá estão que vêm para Portugal.
E haverá muitos outros que estão a sair, até porque a taxa de desemprego aumentou bastante...
O auge da imigração ucraniana foi há cinco/seis anos. Agora estamos
numa outra fase: a de decidir se ficam ou não em Portugal. E muitos
optam por ficar e chamar a família. Até porque a nova legislação veio
facilitar a vinda da família, o que só ajuda a fixar os ucranianos.
Estão a regressar muitos emigrantes à Ucrânia?
Depois da Revolução Laranja [2004/2005], muitos emigrantes voltaram ao
país ou tentaram voltar. Mas também há muitos imigrantes que saíram de
Portugal para ir trabalhar em Espanha, Itália, França, mas também na
Alemanha, na Grã-Bretanha e na Irlanda. E muitas das famílias dessas
pessoas permanecem em Portugal.
De que forma é que o desemprego em Portugal tem afectado a comunidade ucraniana?
Não gosto de me meter nas questões internas do vosso país, só posso
falar de tendências. Mas os ucranianos também estão a perceber que se
quiserem ficar em Portugal têm de ser mão-de-obra qualificada. Como há
menos emprego, há uma maior concorrência e eles têm que competir com
outros imigrantes e com os portugueses. Não é como há oito/nove anos em
que estava tudo em construção: a Expo, os estádios de futebol. Agora há
falta de trabalho e têm que competir. Têm que dominar a língua
portuguesa, ter conhecimentos de informática, etc.
Quais são os vossos maiores problemas?
É quando uma pessoa perde o emprego ou fica doente. É quando assina um
contrato sem o ler e só se tiver um azar é que percebe o que assinou.
Não temos acordos bilaterais como acontece com os cabo-verdianos e
brasileiros, estamos menos protegidos. E os descontos feitos em
Portugal não contam no regresso à Ucrânia, mas os governos dos dois
países estão a trabalhar nisso.|