Divórcio abre nova guerra entre maioria PS e Igreja
JOÃO PEDRO HENRIQUESDivórcio abre nova guerra entre maioria PS e Igreja
Bispo porta-voz da hierarquia fala em projectos "facilitistas" Está
à vista um novo conflito entre a Igreja Católica e a maioria
socialista. Depois da despenalização do aborto, agora será a vez do
divórcio.
Pressionado pelo Bloco de Esquerda, o PS prepara-se para apresentar um
projecto-lei que "liberaliza" o divórcio litigioso, reduzindo para um
ano (ou menos) o período de separação de facto para um divórcio ser
decretado, mesmo quando um dos cônjuges não o autoriza.
Questionado pelo DN sobre as iniciativas legislativas do Bloco de
Esquerda e do PS, o bispo D. Carlos Azevedo, porta-voz da conferência
episcopal, falou em "facilitismo".
"Não se pode considerar o facilitismo seja algo construtor de uma
sociedade melhor", prosseguiu o bispo. "O facilitismo não ajuda as
pessoas. E a lei tem uma função pedagógica nisso, ajuda as pessoas a
pensarem bem antes de darem o primeiro passo."
Segundo o porta-voz da conferência episcopal, o "matrimónio é uma
instituição da sociedade", "já existia antes da Igreja". Portanto, o
"Estado tem obrigações para com essa instituição", ou seja, "deve
defender a união entre as pessoas". "O serviço da fidelidade tem uma
dimensão social - por exemplo, na educação das crianças - e nisso o
Estado é responsável", considerou o prelado. "Não podemos armar o
desejo em lei."
"Sentimentalização do amor"
Para o padre Duarte da Cunha, ex-responsável, durante dez anos, da
Pastoral da Família na diocese de Lisboa, o que está em causa nas
iniciativas do Bloco de Esquerda e do Bloco de Esquerda é uma
"sentimentalização excessiva do amor". "O amor é uma construção
permanente, não é algo que se sente um dia e no outro não", afirmou ao
DN o sacerdote, também professor de teologia, filosofia e antropologia
do matrimónio na Universidade Católica, além de especialista em
políticas de família e orientação e mediação familiar.
"Estamos perante uma cultura da desistência", acrescentou, dizendo
ainda que os diplomas estão "imbuídos de uma cultura individualista"
perante a qual "a família corre o risco de se desagregar".
Para o padre Duarte da Cunha, estes diplomas são o sinal de um "uma
sociedade que não cuida de si". O sacerdote associa a iniciativas à
"desagregação" da família e depois fala da "violência dos jovens". "Não
são só casos de polícia, são também um problema de família, dado que os
jovens estão cada vez mais sozinhos." Contesta, por outro lado, a ideia
do divórcio a pedido (ontem chumbada na Assembleia da República): "Só
se pensa na liberdade do que se quer divorciar. E onde está a liberdade
do que não se quer divorciar."
"Divórcio na Hora"
As tomadas de posição destes dois prelados face às iniciativas
legislativas na Assembleia da República surgem na sequência lógica de
outras recentes. "É quase uma promoção ao divórcio", disse o presidente
da conferência episcopal, D. Jorge Ortiga, perante a iniciativa do
"Divórcio na Hora" (erradamente enquadrada no Simplex, sendo na verdade
uma iniciativa privada que aproveita as facilidades do Cartão Único).
"Não há amor sem sofrimento e sem dor", disse ainda o bispo