Prestige: Equipas de limpeza do derrame do petroleiro na Galiza com risco acrescido de cancro - estudo
Lisboa, 11 Abr (Lusa) - Os trabalhadores e voluntários das equipas de auxílio e limpeza do derrame do petroleiro Prestige, na Galiza, têm um risco acrescido de contrair cancro, segundo um estudo universitário espanhol hoje debatido em Lisboa.
A Universidade da Coruña analisou as modificações do ADN de mais de 300 voluntários e pessoal contratado pelo Governo espanhol para a limpeza das praias e recolha e autópsia de aves contaminadas há mais de cinco anos pelas 66 mil toneladas de fuelóleo derramado, que atingiram 900 quilómetros de costa.
"Concluímos que a exposição aumentou o risco de cancro, mas não sabemos os efeitos efectivos da toxicidade crónica. A exposição ao fuelóleo está relacionada com danos no ADN", comentou à agência Lusa a investigadora Blanca Lafflon, que hoje apresentou o estudo no Instituto Nacional Ricardo Jorge.
No entanto, os danos no ADN nas pessoas com exposição curta aos poluentes foram "rapidamente reparados pelo próprio organismo, não havendo alterações estáveis nos cromossomas".
Comparando os resultados entre fumadores e não fumadores, os investigadores concluíram que quem fuma teve menos danos, porque "está habitualmente em contacto com o fumo [que tem muitos dos poluentes do fuelóleo] e o seu sistema de reparação funciona mais rápido".
"Isto não quer dizer que venha a ser sempre assim a vida toda, um dia o motor pode parar", acrescentou Blanca Lafflon.
A investigação indicou ainda falhas na protecção usada por voluntários e trabalhadores dedicados às limpezas do Prestige, nomeadamente ausências de equipamento, material inadequado ou falta de informação sobre a sua necessidade.
A Universidade da Coruña quer voltar a avaliar as pessoas expostas ao fuelóleo do Prestige, cinco anos depois da catástrofe ambiental, mas necessita de apoios financeiros, que lhe foram negados pelo Governo e Junta da Galiza na primeira fase da investigação.
"Vamos agora apresentar à Junta da Galiza um projecto [para financiamento] para analisar a exposição anos depois", adiantou Blanca Lafflon.
A investigadora defende a necessidade de ser feito um estudo semelhante nos voluntários portugueses que ajudaram na recuperação de aves e limpeza de praias depois do naufrágio do Prestige.
Contudo, António Tavares, responsável do departamento de saúde ambiental do Instituto Ricardo Jorge, lamenta que essa análise não tenha sido feita na altura do derrame.
"O estudo já devia ter sido feito, porque agora ficámos sem valor de referência e sem memória das pessoas envolvidas. Mas era interessante de qualquer forma fazê-lo, havendo financiamento", afirmou à Lusa o especialista.
António Tavares defendeu ainda que as autoridades deveriam criar um plano de contingência para o caso de ocorrer uma situação semelhante em Portugal, até para permitir a elaboração de um estudo sobre os danos provocados na saúde humana.
A maré negra provocada pelo naufrágio do Prestige, que ocorreu a 13 de Novembro de 2002, foi considerada uma das maiores catástrofes ambientais da Europa.
O petroleiro, que levava nos seus tanques 77 mil toneladas de crude, derramou no mar 66 mil toneladas, que atingiram as praias da Galiza e chegaram a ameaçar a costa noroeste portuguesa, mas sem consequências ambientais.
ARP/VP.
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