Fusão divide accionistas do BCP
Os accionistas do Banco Comercial Português (BCP) estão de novo divididos. A proposta de fusão avançada pelo Banco BPI, com vista à criação de uma instituição única, corre sérios riscos de ser rejeitada, face às indicações que começam a ser dadas por parte de alguns accionistas. A constituição de uma minoria de bloqueio, na eventual assembleia geral que decidiria a fusão, é um cenário muito provável. Basta 22% a 24% do capital presente, para a fusão ser chumbada.
O DN soube que a Caixa Geral de Depósitos (CGD) está contra este projecto. Segundo fonte contactada junto da instituição, a administração do banco público, que detém 2,39% do BCP, "não ficou entusiasmada com esta proposta". E a instituição não pretende "alterar uma vírgula que seja à sua expansão".
Na apresentação da proposta de fusão, Fernando Ulrich tinha afirmando que "não o incomodaria um reforço da posição da CGD" no futuro banco, no seguimento da partilha das posições cruzadas dos dois bancos, pelos restantes accionistas, um ponto crucial numa eventual negociação.
João Pereira Coutinho, que tem cerca de 2% do BCP, declarou-se céptico, quanto ao avanço da fusão, nos moldes propostos pelo BPI. E acrescenta: "Já que ninguém pensa no BCP, temos de pensar nos accionistas do BCP".
Joe Berardo, em entrevista à SIC Notícias, sustenta a mesma posição. O accionista, que possui 6,8% do BCP, considera que o BPI está a "aproveitar-se da situação" de fragilidade do banco, acrescentando que "a situação não está clara para os accionistas".
Berardo diz preferir esperar pela posição do conselho de administração do BCP para se pronunciar. Mas deixa entender que não está disposto a aprovar a proposta, nos seus termos actuais.
Na sua intervenção, Berardo volta a "atacar" Jardim Gonçalves e os seus honorários, esperando que o Banco de Portugal e a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) acabem rapidamente as suas investigações sobre o empréstimo ao filho do banqueiro.
Outras fontes contactadas pelo DN, próximas de accionistas, referem que, tal como foi apresentada, a proposta não tem condições de avançar. Em causa está o excessivo peso que o actual órgão executivo do BPI passaria a ter no futuro banco, considerado "um ponto inaceitável". No projecto, o BPI indica o presidente executivo e o vice-presidente do conselho de administração.
A relação de troca das acções é igualmente contestada, com alguns accionistas a considerarem que a atribuição de duas acções do BCP por uma do BPI não espelha a correctamente a dimensão das duas instituições. Ulrich explicou que o rácio de troca proposto é mais favorável para os accionistas do BCP, do que o mesmo implícito nos sete euros oferecidos pelo BCP, na OPA sobre o BPI, que era de 2,44 acções. O modelo de governo e o nome proposto também são contestados.
No entanto, todas partes contactadas consideram que a proposta deve ser encarada como um ponto de partida para uma negociação.
Favorável à fusão está João Rendeiro. O presidente do Banco Privado Português (BPP), que tem 2,5% do BCP, manifestou o seu apoio ao projecto, classificando-o de "equilibrado".
Também a Eureko, o maior accionista com 9,9%, deverá ser a favor da operação, segundo referiu uma fonte ao DN. Posição idêntica poderá ser igualmente adoptada pela Sonangol, com 4,7% do BCP. A petrolífera terá interesse em participar no capital do futuro banco Millennium BPI em Angola.
A Teixeira Duarte, de acordo com fonte oficial da empresa, já avaliou a proposta e já tem uma posição, mas só a divulgará depois do conselho de administração do BCP se pronunciar.
Jardim esclarece"Não foi feita por mim qualquer apresentação qualitativa sobre tal proposta", refere Jardim Gonçalves, num comunicado emitido ontem, ao fim da tarde. O fundador do banco desmentia, assim, notícias vindas a públicas que confirmavam a sua aprovação à proposta do BPI.
No mesmo comunicado, o presidente do conselho geral e de supervisão do BCP esclarece que o documento apresentado é "da exclusiva autoria e responsabilidade do Banco BPI", e que a análise do mesmo "está a ser realizada pelo conselho de administração executivo, que oportunamente se pronunciará".
A posição da administração será revelada na terça-feira, de acordo com uma comunicação enviada a todos os colaboradores do banco. João Rendeiro, à SIC Notícias, afirmou saber que Pinhal está contra a fusão.
DN (27-10-2007)