A revolta dos funcionários da ilha mais rica dos EUA Grupo garante que a segregação ainda existe em Fisher Island
"Quando se entra no ferry, são brancos para um lado e negros para o outro", explicou Mariette Casseus ao diário britânico The Times. E a empregada doméstica numa das mansões de Fisher Island, a ilha americana ao largo de Miami, na Florida, não estava a falar dos anos 50 quando a segregação racial marcava o quotidiano nos EUA, mas sim do que acontece todos os dias no barco que faz o percurso de 15 minutos entre o continente e a ilha.
Considerado "o código postal mais rico dos EUA" pela revista Forbes, Fisher Island depara-se agora com a revolta dos seus funcionários. A "ilha de sonho", onde o rendimento médio per capita é de 236 mil dólares (159 mil euros), a areia veio das Baamas e os tucanos enchem as árvores de cor, foi palco no fim-de-semana de uma manifestação que reuniu centenas de funcionários. São homens e mulheres que, por salários que rondam os 55 dólares por dia, cortam a relva das mansões de luxo e campos de golfe, cuidam dos carros desportivos e da segurança dos milionários que vivem na ilha.
"Quando os super-ricos têm uma ilha isolada só para eles, acabam por desenvolver uma mentalidade colonial e vêem as pessoas como seus empregados e não como seres humanos", disse ao Times Magdaleno Rose-Avila, director da organização Interfaith Workers Justice. Para lutar contra o que consideram ser um exemplo perfeito do abismo entre ricos e pobres nos EUA, um grupo de funcionários decidiu apresentar uma queixa no Gabinete para a Igualdade de Oportunidades de Miami. Os funcionários, na sua maioria negros e hispânicos, acusam a empresa responsável pela travessia de ferry de "segregacionismo".
O barco é mesmo a única forma de chegar à ilha - desde que se seja residente ou se tenha sido convidado. A outra opção é ser dono de um iate ou de um helicóptero. No ferry, os funcionários garantem ser obrigados a "entrar antes dos carros de luxo" dos 467 habitantes da ilha. Caso contrário, estão proibidos de passar junto aos veículos para "não os mancharem com as suas impressões digitais".
Curiosamente, a ilha pertenceu em tempos a Dana Dorsey, primeira milionária afro-americana da Florida. Em 1919, o construtor Carl Fisher comprou o pedaço de terra roubado ao mar em 1905, dando-lhe o seu nome. Adquirida pelo milionário William Vanderbilt, a ilha, com os seus 18 courts de ténis, duas marinas e um heliporto, tornou-se pólo de atracção para ricos e famosos como a actriz Julia Roberts, o tenista André Agassi ou o cantor Ricky Martin, que lá tiveram mansões.
Mas para os funcionários: "Fisher Island deve ser uma ilha só e não estar dividida entre ricos e pobres".
DN