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 O INTERLOCUTOR ARMADO

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Vitor mango

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MensagemAssunto: O INTERLOCUTOR ARMADO   O INTERLOCUTOR ARMADO EmptyTer Jan 15, 2008 9:57 am

O INTERLOCUTOR ARMADO

Adriano Moreira
professor universitário
Entre as numerosas ameaças que tornaram altamente inquietante a entrada no milénio, avulta a questão que já foi chamada de jogo nuclear, parcela da tese mais vasta das armas de destruição maciça.

A expressão jogo nuclear tem alguma inspiração na cortina de enganos com que a elaboração conceitual do chamado eixo do mal envolveu a diplomacia ao mesmo tempo pública e reservada que teve como resultado a intervenção no Iraque. A circunstância de essa cortina de enganos ter determinado o percurso de que agora tantos se lamentam, e raros se penitenciam, induz alguma perplexidade sobre a interpretação a dar ao anúncio, feito com alarde pelo Governo do Irão em Setembro.

O confiante Presidente do Irão não pareceu estar num exercício eleitoralista, quando esclareceu que apoiava o discurso no facto de o seu Governo ter conseguido três mil centrifugadores capazes de produzir urânio enriquecido. É uma mensagem inequívoca de que o Irão considera que vai possuir uma capacidade estratégica de potência regional.

Numa área política de enganos, da qual dirigentes ocidentais envolvidos nas responsabilidades do desastre do Iraque variam entre reconhecer o erro de percepção e reafirmar-se convictos da boa decisão, pode admitir-se a dúvida sobre se também agora estaremos perante um recurso à prática do Estado-espectáculo, com o principal objectivo de fortalecer o ânimo patriótico das populações, ou se o anúncio corresponde de facto a um sólido progresso na execução do projecto de conseguir a ambicionada autonomia estratégica.

Progresso que, na perspectiva americana, agrava o eixo do mal, e na maior contenção verbal dos europeus agrava o risco de quebra da paz. Tal como não aconteceu no caso do Iraque, é necessário que os técnicos da Agência Internacional da Energia Atómica sejam acreditados para avaliar a exactidão do anúncio, com a cautela de os governos prestarem a devida atenção àquilo que os técnicos concluam e informem.

Independentemente dessa intervenção eventual, e também do resultado da meditação a que inevitavelmente se procederá na ONU, as atitudes paliativas, que busquem apaziguar as inquietações mundiais, não parecem ser as mais indicadas para lidar com um processo de confronto em que a decisão do Irão se tem sempre mostrado consistente e longe das simples retóricas propagandistas.

O anúncio de Setembro foi seguido, não necessariamente como consequência, pelo acordo entre os governos de Pyongyang, EUA, Japão e Coreia do Sul, pelo qual aquele se comprometeu a desmantelar as suas instalações de enriquecimento de urânio, tendo como contrapartida várias ajudas.

O método da negociação, com o objectivo de obter o equilíbrio da paz pelo equilíbrio dos interesses, é assim demonstradamente o mais eficaz e menos consumidor de vidas e de confiança.

Por outro lado, o ataque de Setembro de 2001 tornou claro que o arsenal nuclear não assegura uma protecção eficaz de retaliação contra poderes atípicos, ao mesmo tempo que a proliferação das armas nucleares alerta para o facto de que a política de destruição do eixo do mal não é apropriada para deter o crescimento da ameaça, nem é comprovadamente capaz de seleccionar os alvos com acerto.

De facto, é a estratégia de segurança nacional enunciada em 2002 pelo Governo dos EUA que mostra debilidades em todas as vertentes: controlar os arsenais conhecidos, impedir que a proliferação inclua o acesso do terrorismo a tais armas, dominar o eixo do mal.

Vai sendo sublinhado, por comentadores avisados, que partir da afirmada irracionalidade dos desafiantes não é partir de uma premissa consistente.

O prudente Jimmy Carter por isso recomenda insistentemente a revisão da política agressiva, e confiar na autoridade dos organismos internacionais, uma atitude que pode reforçar a firmeza da única política que parece confiável, e que é a do desarmamento geral e controlado, racionalmente desenvolvido entre interlocutores armados.
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