Análise: Invasão do Iraque mudou balanço de forças no Oriente Médio
Rodrigo Durão Coelho do Cairo
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Irã e Iraque eram inimigos ferrenhos desde a década de 1980 |
Cinco anos após seu início, a invasão do Iraque liderada pelos Estados Unidos trouxe profundas conseqüências para os países
vizinhos e alterou o balanço de forças da região, segundo analistas ouvidos pela BBC. "Desde
a década de 1970, o Iraque era um dos principais atores da política do
Oriente Médio, mas isso terminou com a invasão, quando se fortaleceu o
papel do Irã", afirma Abdel Said Ali, diretor do Centro de Estudos
Políticos e Estratégicos Al Ahram, no Cairo.
O analista diz acreditar que uma das principais mudanças ocorridas na região desde 2003 foi um reposicionamento das forças
sunitas e xiitas.
Após
a derrubada de Saddam Hussein, as duas vertentes passaram a
protagonizar um conflito sectário que já matou dezenas de milhares de
pessoas no Iraque. Os xiitas, majoritários no Iraque, tinham sido
duramente reprimidos sob o regime sunita de Saddam Hussein e, agora,
reivindicavam o poder no país.
Os conflitos não se espalharam pela região, mas acabaram promovendo uma aproximação entre grupos sunitas e xiitas de diferentes
países.
O Irã ser aproximou do movimento Hezbollah no Líbano e do governo sírio, representando os xiitas. Do lado dos sunitas, houve
um fortalecimento de laços entre os governos de Arábia Saudita, Egito e parte da população no Líbano.
Irã e o Hezbollah "O
Irã sempre teve grandes ambições regionais. Sob o regime do xá (governo
pró-americano deposto pela Revolução Islâmica de 1979) promovia
políticas ocidentalizadas, mas, após 1979, mudou radicalmente", afirma
o analista político jordaniano Mustafá Hamarne.
Sob o
governo de Mahmoud Ahmadinejad, presidente que recolocou o Irã em uma
trajetória mais afinada com os líderes religiosos conservadores, o país
passou a se projetar com mais firmeza como pólo constante de oposição
aos interesses dos EUA no Oriente Médio.
"A ambição não é nova, a novidade é que a invasão americana beneficiou a posição do país", afirma ele.
Sob
Saddam Hussein, a minoria sunita (20% da população iraquiana) dominava
a maioria xiita. Com a queda do regime, os xiitas assumiram grande
parte do poder, o que acabou motivando conflitos com os sunitas. Nesse
contexto, uma aliança da classe política xiita iraquiana com os
vizinhos iranianos foi considerada um passo natural.
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A popularidade do Hezbollah aumentou após a guerra com Israel em 2006 |
Para o analista político Hilal Khashan, da Universidade Americana de Beirute, o fortalecimento do Irã se fez sentir também
em seu país, o Líbano, por meio do grupo Hezbollah.
"O Hezbollah , apoiado pelo Irã, se tornou a força política mais poderosa do Líbano, formando um Estado dentro do Estado",
afirma ele.
Israel
e os EUA acusaram o Irã de fornecer apoio militar e financeiro ao grupo
militante xiita durante o conflito militar entre o Hezbollah e Israel,
em meados de 2006 - conflito que acabou ajudando a consolidar o
Hezbollah como força política no Líbano.
"O Hezbollah quer reproduzir no Líbano o que aconteceu no Iraque, onde os xiitas se tornaram os principais atores políticos
do país", diz Khashan.
O Líbano vive uma séria crise com a disputa entre o Hezbollah e as demais facções políticas no país, que têm impossibilitado
a escolha de um novo presidente desde o final do ano passado.
Entenda as divisões do Líbano A estrada para Damasco Quando
ocorreu a invasão de 2003, muitos analistas cogitaram a hipótese de
que, após a rápida queda do regime de Saddam Hussein, o Exército
americano iria derrubar também o governo sírio, apontado no ano
anterior pelo presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, como um
dos países integrantes do que chamou de ‘Eixo do Mal’.
"Nos
primeiros dias da guerra, eles (os americanos) diziam que aconteciam
incursões sírias em território iraquiano e que tinham direito de fazer
todo o possível para evitar isso", afirma George Jabbour, assessor do
ex-presidente sírio Hafez al Assad.
"Mas depois se viram imersos em uma situação difícil no Iraque, suas ambições ficaram limitadas e agora pedem ajuda, querem
nossa colaboração", diz ele.
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Refugiados iraquianos na Síria |
Por
fazer fronteira com o Iraque, a Síria vem recebendo um grande influxo
de refugiados que fogem da violência gerada no conflito.
Leia mais: Anistia faz apelo por ajuda a 2 milhões de refugiados iraquianos "Temos um milhão e meio, dois milhões (de refugiados). Eles compartilham de nossos bens como comida e combustíveis. São um
peso para a economia síria, mas os acolhemos e não recebemos ajuda alguma", afirma Jabbour.
Turquia Enquanto a violência entre sunitas e xiitas levou à morte de dezenas de milhares de pessoas em grande parte do Iraque, o norte
do país, o semi-autônomo Curdistão iraquiano viveu em relativa tranqüilidade.
No entanto, desde 2007, cresceram as tensões entre a Turquia e grupos militantes curdos que atuam em território turco e se
refugiam em bases no norte do Iraque.
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Guerrilheira curda do PKK |
Considerada uma das maiores etnias sem Estado do mundo, os curdos habitam uma grande região do Oriente Médio, incluindo partes
de Turquia, Iraque, Irã, Síria e Armênia. Os governos da região se opõem ao projeto de um Estado curdo.
Em fevereiro de 2008, o Exército turco entrou em solo iraquiano para combater os militantes separatistas.
Para
o professor de Relações Internacionais da Universidade de Bilkent, na
Turquia, Ersel Aydinli, "a crescente autonomia dos curdos (no Iraque)
complicou as coisas para a Turquia porque os seguidores do PKK (Partido
dos Trabalhadores do Curdistão), dentro e fora de nosso país,
conseguiram uma justificativa para o separatismo."
Israel e territórios palestinos As
tentativas de se por um fim ao conflito entre palestinos e israelenses
não avançaram nestes últimos cinco anos. Para o conselheiro do
ministério das Relações Exteriores da Autoridade Palestina, Abdel
Husni, isso ocorreu porque os Estados Unidos, tradicionais mediares do
confronto, estiveram muito ocupados com o Iraque.
"A questão palestina ficou em segundo ou terceiro plano porque os esforços americanos se concentraram no caos iraquiano",
afirma ele.
Já Israel, que por um lado viu com bons olhos a queda do tradicional inimigo Saddam, afirma que, devido à conjuntura regional,
o país não está mais seguro.
"Os movimentos terroristas não desapareceram com ele (Saddam), agora seguem apoiados pelo Irã", afirma Yigal Palmor, porta-voz
do governo israelense.
"Este apoio é muito mais significativo porque não se trata apenas de dinheiro e armas, mas é também ideológico."
"Isso leva os terroristas do Hamas e do Hezbollah à uma guerra final, sem objetivo racional, que inclui o atentado suicida,
algo que não acontecia no regime de Saddam.