Caso Maddie
Organismo britânico analisa queixas contra ataque de tablóide ao embaixador português
A comissão para as queixas sobre a imprensa britânica recebeu meia centena de reclamações contra uma crónica publicada num tablóide onde o embaixador português no país é atacado por declarações sobre o «caso Madeleine»
«Chegaram cerca de 50 queixas de todo o mundo, na maioria de [cidadãos] portugueses, mas também de outras nacionalidades», adiantou à agência Lusa um porta-voz do organismo estatal [Press Complaints Comission em inglês, PCC].
A comissão vai agora analisar o conteúdo das reclamações e a legislação que é invocada nas queixas para "decidir se se justifica uma investigação mais profunda", disse a mesma fonte.
Em causa está uma crónica no diário "Daily Mirror" publicada na segunda-feira onde o autor qualifica declarações do embaixador português no Reino Unido, António Santana Carlos, sobre o «caso Madeleine» como «estúpidas e desnecessárias».
Assinado pelo polémico jornalista Tony Parsons, este cita uma entrevista do diplomata ao diário «The Times» no passado sábado.
Nesta, o embaixador afirma que em Portugal «as famílias vivem todas juntas», razão pela qual, sugere, alguns portugueses terão criticado os McCann por terem deixado os seus filhos sozinhos a dormir num apartamento enquanto jantavam num restaurante próximo.
«Eles erraram, embaixador. As vidas deles foram destruídas. Isso é um castigo suficiente, sem os seus comentários estúpidos e desnecessários», escreve o articulista do Mirror, que aconselha que no futuro Santana Carlos «mantenha fechada a boca estúpida e trituradora de sardinhas».
O conteúdo da crónica, assim como o provocador título «Oh, up yours, senor», foi considerado por vários portugueses como uma «ofensa escandalosa», iniciando uma corrente de correios electrónicos a incitar a apresentação de uma queixa à PCC.
Os autores deste apelo invocam uma infracção à lei de ordem pública de 1986 - a qual proíbe os insultos raciais ou o uso de termos que instiguem o ódio racial - e que no artigo em causa teria atingido os portugueses.
O assunto originou também dezenas de comentários na página electrónica do tablóide, onde pessoas de diferentes nacionalidades, incluindo vários que se identificam como britânicos, condenam Parsons, enquanto outros concordam.
A PCC tenciona tomar uma primeira decisão sobre os procedimentos a tomar neste caso «dentro de duas a três semanas», podendo, se decidir prosseguir, pedir esclarecimentos ao jornal, disse o porta-voz à agência Lusa.
Se a publicação for considerada culpada, esta poderá ser obrigada a retratar-se nas suas páginas. A agência Lusa tentou obter um comentário do «Daily Mirror« às queixas apresentadas, mas até ao momento não obteve resposta.
Também o embaixador António Santana Carlos recusou reagir à polémica, estando a ponderar uma tomada de posição mais formal, adiantou fonte da representação diplomática portuguesa, remetendo para a entrevista ao «Times» os esclarecimentos sobre o intuito das suas palavras.
Lusa/SOL