Jacques Rogge, presidente do COI, ao "Le Monde""A opinião pública é demasiado tolerante em relação ao doping"
O presidente do Comité Olímpico Internacional (COI), Jacques Rogge, afirmou, numa entrevista ao jornal francês "Le Monde",
que a opinião pública é “demasiado tolerante em relação ao doping”. E a sucessão de casos positivos que têm afectado algumas das principais estrelas mundiais do desporto não preocupam o responsável máximo pelo movimento olímpico.
“Vimos atletas apanhados em flagrante delito serem encorajados no dia seguinte”, lamentou-se Jacques Rogge, poucos dias depois da velocista norte-americana Marion Jones, medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Sydney, ter admitido o recurso a substâncias dopantes.
As repercurssões do caso de Jones, contudo, não o preocupam em demasia.
“É um pouco como o anúncio da positividade de Ben Jonhson, em 1988, e que toda a gente encarou como se fosse uma catástrofe: eu considero-o como um progresso na luta contra a dopagem. Cada atleta que conseguimos apanhar é uma boa notícia para essa luta.”
E acrescentou: “O importante é que as pessoas saibam que fazemos tudo para combater a dopagem.”
Jacques Rogge está decidido a que o seu mandato à frente do COI seja olhado como um dos que mais contribuíram para erradicar a prática do doping.
Por isso, fez questão de apontar os números que, segundo ele, provam a sua determinação. “No meu mandato, passámos de 2000 para 4500 testes entre os Jogos Olímpicos de Sydney e os que se vão disputar em Pequim. Isto reflecte-se também no número de casos positivos: 12 em Sydney, 26 em Atenas.”
Esta determinação no combate ao doping tem ainda outra consequência:
“Já decidimos que qualquer atleta que sofra uma sanção superior a seis meses não vai poder participar nos Jogos seguintes.” Uma medida que só afectará os atletas apanhados nos Jogos de Vancouver (2010), libertando os que competirem em Pequim.
Livre circulação com limitesJacques Rogge abordou também a questão da livre circulação de desportistas na União Europeia. Declarando-se um “europeísta convicto”, o belga considerou que o “caso Bosman” criou dificuldades aos clubes que apostam na formação e lembrou a oposição do COI em relação às propostas defendidas no Livro Branco da União Europeia e que apontam para a livre circulação dos atletas.
O dirigente apela a uma solução de compromisso, que tenha em consideração a especificidade do desporto.
“Não pretendemos uma excepção para o desporto. Pedimos apenas que seja levado em conta o papel social desempenhado pelo desporto e, actualmente, não é isso que se passa”, declarou.
O presidente do COI está no lado da barricada daqueles que consideram que é necessário proteger as entidades que trabalham na formação dos atletas, sob pena de se matar a “galinha dos ovos de ouro”.
“Claro que existe a componente económica, tal como existe a componente profissional, mas este desporto profissional não representa mais do que 5 por cento de toda a pirâmide.
Desejamos que as necessidades dos pequenos clubes, que são os clubes formadores, sejam levadas em consideração, pois no contexto actual correm o risco de serem estrangulados”, sintetizou.
Jacques Rogge foi ainda mais longe, considerando que o Livro Branco” significa uma regressão aos direitos adquiridos e que constavam no artigo relativo ao desporto, incluído no projecto de constituição europeia.
No entanto, Rogge manifestou-se convicto que as reuniões que o COI tem mantido com os responsáveis europeus possam levar a uma tomada de posição por parte da União Europeia que seja mais próxima das visões defendidas pela entidade que dirige.
Por último, Jacques Rogge fez um ponto da situação em relação à forma como estão a decorrer os preparativos para os Jogos Olímpicos de Pequim, que se realizarão no próximo ano.
O presidente do COI manifestou-se absolutamente tranquilo e nem as questões relacionadas com a defesa dos direitos do homem ou as relacionadas com a poluição o preocupam.
Público (15-10-2007)
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Ter Out 16, 2007 1:14 am