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 Atacar o Irão seria desastroso - Kofi Annan

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MensagemAssunto: Atacar o Irão seria desastroso - Kofi Annan   Atacar o Irão seria desastroso - Kofi Annan EmptySáb Abr 05, 2008 2:21 am

Kofi Annan

"Atacar o Irão seria desastroso"

Kofi Annan veio a Lisboa receber, com Simone Veil, o Prémio Norte-Sul do Conselho da Europa.

Nesta entrevista, o ex-secretário-geral das Nações Unidas analisa as crises africanas e do Médio Oriente e deixa o alerta: "Perderam-se direitos e liberdades depois da guerra do Iraque".

0:00 | Sábado, 5 de Abr de 2008

Gostaria de começar por lhe fazer uma pergunta relativa à sua última missão com a União Africana, a mediação que fez no processo pós eleitoral do Quénia. Parece que organizar eleições em África é mais fácil do que conseguir assegurar que os resultados sejam respeitados. Como foi a sua experiência?

O processo de votação em si funcionou muito bem, o problema foi quando os resultados foram anunciados. Cheguei lá quando a violência estava no ponto alto, houve um verdadeiro confronto entre os dois grupos e é claro que os eleitores, que apenas tinham cumprido o seu dever cívico, se encontraram nos dias a seguir com cenas de uma incrível violência...

Claro que havia outras razões de fundo para a violência, injustiças históricas como a posse da terra, falta de emprego, sentimento de injustiça devida ao facto de os lucros estarem mal divididos entre as regiões e as províncias, o que é muito importante num país com 42 tribos diferentes. Tivemos de garantir que os dois lados eram capazes de se unir e focar os seus esforços no país. Afinal, só há um Quénia! E têm de pensar no país antes de pensarem nas tribos.

Mas acho que conseguimos, ao fim de 42 dias de intensas negociações, que chegassem a um acordo que requer uma partilha de poder, uma revisão da Constituição, sérias reformas políticas, reformas constitucionais e de política da terra, reformas eleitorais...

É uma daquelas situações em que tem de se garantir que os líderes políticos se juntam, põem as diferenças de lado e se focam nos desafios do país. O Governo tem de representar a verdadeira força dos dois partidos no Parlamento e tem de equilibrar a distribuição das pastas, um partido não pode ficar os ministérios importantes como Interior e Negócios Estrangeiros, e o outro com a Cultura, o Património e o Desporto.

O processo do Quénia confirmou o poder do diálogo?

O poder do diálogo, o poder da imagem do diálogo. E acho que é também - espero! - uma indicação de que o vencedor não tem de ficar em posse de tudo. Temos a cultura do "o vencedor fica com tudo" que dá origem a problemas políticos em África porque, às vezes, as oposições são postas de parte. Espero que saia desta experiência recente do Quénia que se pode trabalhar juntos para o bem da nação sendo de partidos diferentes.

Acha que as crises pós eleitorais se vão suceder? No Zimbabwe, em Angola? O que se pode fazer para evitá-lo?

Tem de se começar por fortalecer as instituições. Temos de aceitar que as instituições são mais importantes que os homens e que instituições fortes são leis eleitorais justas. Espero não ter de repetir isto: espero que o que se está a passar no Quénia seja uma lição para outros governos aprenderem a evitá-lo. Sei que estamos hoje a olhar para o Zimbabwe onde os resultados estão a ser revelados muito lentamente, o mundo está à espera de saber o que se vai passar e, mais ainda, os zimbabweanos estão à espera. A espera deixa as pessoas apreensivas. Espero que não haja intromissão nos resultados, que a vontade do povo seja respeitada e que todos aceitem os resultados.

Acredita que Robert Mugabe abandonará voluntariamente o poder caso perca as eleições?

Se ele perder, espero que sim. No passado, quando ganhou, aceitou os resultados. Espero que os aceite se perder porque faz parte das regras da democracia.

A democracia e os direitos podem ser impostos à força? Os boicotes, as sanções e os embargos são realmente eficazes ou são para ser usados com prudência e apenas como último recurso?

Não se pode impor a democracia, não se pode impor a paz e não se pode querer mais a paz do que o povo que vive no país em causa. Mas pode-se promover a paz, pode-se trabalhar com os povos. O melhor que pode acontecer é que a iniciativa parta das pessoas que vivem no país, mas podem ser assistidos por forças exteriores, por países estrangeiros e pelas Nações Unidas. Temos de ser muito cuidadosos quando chegamos ao uso da força ou da imposição de sanções porque as sanções são um instrumento cego.

Para ajudar a mudar o comportamento de um líder individual ou de um regime, acabam por castigar uma população inteira. Isto não pode acontecer e as Nações Unidas aperceberam-se disso.

Hoje em dia fala-se de "sanções inteligentes" que procuram que as sanções sejam eficazes a afectar o comportamento de líderes que se quer ver alterados em vez de aplicar sanções que afectam todos. Até às sanções há toda uma série de pressões económicas, políticas e diplomáticas a aplicar. Só em último recurso se deve usar a força.

Um boicote aos Jogos Olímpicos de Pequim poderia ter um impacto positivo na crise do Tibete?

É uma pergunta lógica na sequência da anterior. Boicotando os Jogos Olímpicos quem se está a punir? O que sentirão os atletas que treinaram durante anos para lá chegar? Temos de encontrar outros meios de lidar com os dirigentes políticos. Acho que há necessidade de encorajar o diálogo, mas não acho que isso se alcance com um boicote aos Jogos Olímpicos. O Dalai Lama tem afirmado repetidamente que é contra a violência e suspeito que a maioria dos seus apoiantes respeitarão a abordagem não violenta. Há sinais recentes de disponibilidade para o diálogo por parte do primeiro-ministro chinês e acho que nós temos obrigação de promover condições para que venha a acontecer esse diálogo entre o Dalai Lama e o Governo chinês. É muito mais eficaz do que o caminho do boicote.

Disse que a guerra no Iraque foi a sua pior experiência enquanto secretário-geral das Nações Unidas. Ainda pensa assim? O mundo está melhor ou pior?

Disse isso não enquanto secretário-geral das Nações Unidas, mas enquanto ser humano, enquanto indivíduo que sentia profundamente que a guerra levaria ao desastre e não resolveria nada. Sou também uma pessoa que acredita que na guerra não há vencedores, todos são vencidos. A guerra no Iraque aconteceu sem aprovação do Conselho de Segurança e dividiu o mundo e as Nações Unidas. Está a começar a sarar, mas ainda não está sarado. Se me pergunta se o mundo está melhor do que antes do ataque ao Iraque tenho de dizer que não. Veja-se o desenvolvimento do terrorismo. Antes da guerra não havia terroristas no Iraque e a guerra atraiu os jihadistas, matou centenas de milhar de iraquianos, milhares de soldados aliados, desalojou milhares de iraquianos, muitos deles para a Síria e Jordânia. É uma situação catastrófica. Obviamente que os iraquianos estavam numa situação difícil sob o regime de Saddam Hussein, mas a situação actual que vivem, quando julgaram que a salvação estava a chegar, é muito penosa.

Teria a mesma reacção se estivesse no mesmo lugar e fosse confrontado com a ameaça de uma intervenção militar, digamos, no Irão?

Já o disse e repito, um ataque militar ao Irão seria desastroso! Não acho que seja maneira de resolver problemas nem de contribuir para a difícil situação que temos hoje em dia no Médio Oriente. E espero que ninguém esteja a pensar numa acção militar contra o Irão. Obviamente que existe a preocupação com a questão nuclear. Os iranianos dizem que não procuram fazer bombas nucleares e a questão está agora nas mãos do Conselho de Segurança. Eu diria aos iranianos: se as vossas intenções são pacíficas, se não têm nada a esconder, por favor abram as portas e deixem os inspectores ir a todo o lado, arranjem uma maneira de convencer o mundo de que as vossas intenções são pacíficas.

Perderam-se liberdades e direitos neste mundo que não melhorou após a intervenção militar no Iraque?

Todo o mundo perdeu liberdades. Hoje em dia basta classificá-la como "terrorista" para uma pessoa ser tratada arbitrariamente. Há quem acredite que fazer isso é eficaz contra o terrorismo. Penso que não está certo. Ao privar as pessoas de liberdades e direitos civis para nos proteger do terrorismo está a dar-se a vitória aos terroristas. Tem de ser possível lidar directamente com os criminosos e tratá-los como tal à luz da lei. Porque há leis eficazes para lidar com eles.

Qual foi a sua maior frustração, ou remorso, enquanto secretário-geral das Nações Unidas? Qual é a sua maior esperança?

Houve momentos de amarga desilusão como quando não pudemos impedir a guerra no Iraque. Mas as Nações Unidas também puseram o assunto "equidade e pobreza" na sua agenda. Na Declaração do Milénio dissemos que não podemos ter um mundo onde há extrema pobreza e imensa riqueza lado a lado sem fazer nada. A Declaração do Milénio tem por fim resgatar milhões de pessoas à pobreza abjecta, devolvendo-os à dignidade humana.

A dignidade humana e a liberdade de não ter medo e de não ter fome faz parte da devolução da dignidade aos indivíduos.

Criámos um Fundo Global que de 14 milhares de milhões de euros para dar assistência aos que vivem com sida. Provámos que não ficámos paralisados por problemas gigantescos. Mesmo relativamente à questão dos direitos civis, os estados-membros aceitaram a responsabilidade e cada governo tem a responsabilidade de proteger os seus cidadãos.

Mas, onde os governos falharem, a comunidade internacional tem a responsabilidade de avançar e proteger as pessoas que estiverem a sofrer genocídio, limpezas étnicas ou abuso sistemático dos direitos humanos. Isto significa, como disse, pressão económica, política e diplomática e força, só em último recurso. Tal como aconteceu no Quénia, onde se conseguiu terminar com a violência que estava a decorrer levando as partes a dialogar e a negociar.

Depois de ter sido Prémio Nobel da Paz em 2001 com as Nações Unidas, foi agora galardoado com o prémio Norte-Sul do Conselho da Europa. Já há muitos anos que está, a partir do Norte, a trabalhar para o Sul?

A trabalhar no norte, a falar com o norte sobre o sul. Estou honrado por receber este prémio. Ele significa que hoje vivemos "num mundo", estamos no mesmo barco e o Norte tem tanto a dar ao Sul como o Sul tem a dar ao Norte. É importante que aprendamos a viver num tempo em que um risco é um risco para todos. Acho que a mensagem está a passar, apesar de ainda haver algumas tensões. Estamos a começar a compreendê-lo.

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MensagemAssunto: Re: Atacar o Irão seria desastroso - Kofi Annan   Atacar o Irão seria desastroso - Kofi Annan EmptySáb Abr 05, 2008 10:09 am

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